ensinar_aprender

Diz-me e eu esqueço, ensina-me e eu recordo, envolve-me e eu aprendo. — Benjamin Franklin

Existem várias possibilidades de classificar os métodos de ensino. Vou abordar aqui apenas o método Indireto (ensinar a aprender), mas no final deixarei links para leitura do método Direto (doutrinário).

Segundo Woolfolk et al (2009)[34] , a maioria dos construtivistas focam-se em dois pontos principais: 1º os alunos são responsáveis pela construção do seu próprio conhecimento e 2º as interações sociais são importantes para essa construção.

O ensino de conceitos, pesquisa, e resolução de problemas são diferentes formas do método de ensino indireto, que envolvem ativamente os alunos na pesquisa de soluções para questões e problemas, enquanto estes constroem novos conhecimentos.[35]

Ao contrário do método de ensino direto, o método indireto é centrado no aluno, embora ambos possam ser vistos como métodos complementares e não antagónicos.[36] Nos métodos de ensino indireto o papel do professor é o de facilitador da aprendizagem.

Este método permite aos alunos evoluírem no seu processo de aprendizagem através da investigação, sendo este considerado um método de aprendizagem pela descoberta, promovendo a verdadeira compreensão. É valorizado o trabalho cooperativo e colaborativo entre os elementos do grupo.

Devido à sua natureza construtivista, o método de ensino indireto tem a vantagem de tornar o aluno um aprendiz ativo. Aprender é algo que é “feito” pelo estudante, não “feito para” o estudante, cabendo ao professor um papel de facilitador mais do que instrutor, como antes referimos. Este método melhora a criatividade e ajuda a desenvolver habilidades para a resolução de problemas.[37]

Como este método é centrado no estudante, poderá ser necessário despender de mais tempo da aula para atingir os objetivos de aprendizagem, o que não acontece quando é utilizado o método direto. Como facilitador, o professor deve dar o controlo da aprendizagem aos alunos o que, inicialmente, poderá ser desconfortável.[37]

Aliás, um dos inconvenientes apontados a este método é a dificuldade de gerir o tempo, de se demorar muito mais tempo para atingir os objectivos educativos. Outro dos inconvenientes está associado à dificuldade do professor, em tempo útil, conseguir “orquestrar” os ritmos de trabalho diferenciados dos alunos e de, nem sempre, ter a possibilidade de corrigir os percursos de aprendizagem de cada aluno (Bransford, 2003)[38]

Os métodos indiretos de ensino e a aprendizagem pela descoberta têm por base as teorias construtivistas. Assentam na ideia de que se aprende melhor quando o aluno está ativo durante o processo de ensino. Este descobre factos, relações e novos conceitos a partir da sua experiência e conhecimento prévios.

O método pela descoberta encoraja os alunos a colocar questões, formular hipóteses e realizar experiências. Os aprendentes interagem com o mundo através da exploração e manipulação de objetos, do debate de questões controversas ou através de experiências.

Os proponentes desta metodologia de ensino acreditam que os alunos terão mais facilidade em recordar aprendizagens realizadas desta forma do que através de modelos de ensino direto, embora os resultados das investigações nem sempre confirmem as suas crenças, sobretudo quando se aplica este método junto de crianças provenientes de meios socioeconomicamente desfavorecidos ou que apresentam alguma dificuldade em aprender (cf. ensino direto).

Este método de ensino assenta nas teorias de John Dewey, Jerome Bruner, Jean Piaget, Seymour Papert, entre outros.

Noam Chomsky comenta, numa entrevista o sistema educacional preconizado por Jonh Dewey, dizendo que se o sistema educativo de um qualquer país, fosse o preconizado por Jonh Dewey, os indivíduos seriam educados para serem ativos, livres e criativos.

Os modelos de ensino que se baseiam nesta conceção sobre o modo como os seres humanos aprendem, preconizam que se deve:

  1. Especificar as experiências de aprendizagem pelas quais os estudantes devem passar;
  2. Adequar o volume de conhecimento aos aprendentes;
  3. Disponibilizar as informações de modo a que sejam facilmente compreendidas.

Para Bruner, neste método de ensino o mais importante é a participação ativa do aprendente no próprio processo de aprendizagem.

A aprendizagem pela descoberta, segundo Bruner, deve ter em conta os seguintes aspetos:

  1. A predisposição dos alunos para a aprendizagem;
  2. A forma de estruturar os conhecimentos de modo a facilitar a sua interiorização;
  3. O professor deve levar os estudantes a descobrir as relações entre conceitos e construção de proposições;
  4. O professor e aluno devem ter um diálogo ativo neste processo, para que a informação interaja corretamente com a estrutura cognitiva do estudante;
  5. Os conteúdos devem ser trabalhados em espiral, ou seja, trabalhados periodicamente com cada vez mais profundidade, para que os alunos modifiquem continuamente as representações mentais que vão construindo.

Para Bruner o desenvolvimento psicológico não é independente do meio social e cultural. Este defende que a educação tem uma função mediadora entre o aluno e o meio histórico-cultural no qual este se desenrola.

Bruner recolheu evidências da eficácia deste método de ensino indireto, sobretudo quando se destina a crianças e jovens sem dificuldades de aprender. O problema é que este método de ensino não se adequa a todas as crianças.

Segundo Bruner entender um conceito é como descobrir esse conceito. Ver aqui uma entrevista com Bruner.

De acordo com Mayer[39] a aprendizagem por descoberta pura não funciona, “não funcionava nos anos 60, 70 ou 80 e não funciona hoje”. Mayer argumenta que a seleção de informação relevante é uma fase crítica na qual o aluno pode falhar e a partir daí os conteúdos nunca irão ter nexo.

Segundo Mayer a aprendizagem pela descoberta mas guiada é o melhor método de promoção de aprendizagens em ambientes construtivistas. O desafio de ensinar por descoberta guiada é saber quanto e que tipo de orientação dar e disponibilizar e ainda saber qual ou quais os resultados desejados.

Mayer[39] refere duas formas de aplicar o método de descoberta guiada:

  1. Usar inicialmente métodos diretos para promover o processo cognitivo necessário para uma posterior aprendizagem por descoberta guiada.
  2. Fornecer orientação e exploração de alternativas.

Palinscar e Brown’s (1984)[39] mostraram que alguma orientação por parte do professor é necessária para manter o foco da discussão nas competências a adquirir. Alguns educadores construtivistas defendem técnicas de orientação do processo cognitivo dos alunos ao longo da aprendizagem para manter os alunos focados nos objetivos da aprendizagem. Na aprendizagem pela descoberta guiada ganham importância a orientação, a estrutura e os objetivos a atingir.

Uma das formas mais eficazes de guia e orientação, segundo Spencer e Jordan[40] , são os guias de estudo que servem de orientação para os alunos, assegurando o seu envolvimento na gestão das aprendizagens.

Segundo os mesmos autores, um bom guia de estudo tem incluído os objetivos de aprendizagem, planificações e recursos de auto-avaliação, como forma de o aluno avaliar as suas competências.

O bom uso de um guia de estudo pressupõe uma melhor comunicação e orientação do aluno dispensando-se os contactos excessivos com o professor. Existem na Internet bons guias de estudo e muita informação para os alunos descobrirem num qualquer processo de aprendizagem por descoberta.

Vantagens da aprendizagem pela descoberta

Os cientistas que apoiam esta teoria acreditam que as vantagens em termos de aprendizagem são:

  1. Estimula a participação ativa do aprendente, o que promove a motivação e a curiosidade
  2. Promove a autonomia, responsabilidade e independência
  3. Desenvolve a criatividade e competências de resolução de problemas
  4. Facilita a aprendizagem por medida, pois cada aluno evolui/aprende segundo as suas capacidades.
  5. Possibilita o desenvolvimento de aprendizagens significativas para a vida.

Desvantagens da aprendizagem pela descoberta

Críticos da aprendizagem pela descoberta avançam com desvantagens:

  1. Perigo de criar sobrecarga cognitiva
  2. Potencia a aquisição de conceitos errados por parte dos alunos
  3. Possibilidade de os professores falharem na deteção de problemas e equívocos

Função de cada um dos envolvidos no processo de ensino pela descoberta

Função do Professor:

É o mediador entre o conhecimento e a compreensão dos alunos, bem como facilitador da aprendizagem, fornecendo ferramentas aos aprendentes e servindo de orientador para resolver os erros.

Função do aluno:

O aluno revê, modifica, enriquece e reconstrói o seu conhecimento. Reconstrói constantemente as suas próprias representações, enquanto utiliza e transfere o que aprendeu a outras situações.

Fases do processo de aprendizagem pela descoberta

Para Friedler, Nachmias, e Linn (1990)[45] o processo tem as seguintes fases:

  1. Definição de um problema
  2. Definição de uma hipótese
  3. Desenho e experimentação
  4. Observação, recolha, análise e interpretação de dados
  5. Aplicação de resultados
  6. Elaboração de previsões com base nos resultados obtidos

De Jong e Njoo (1992)[46] dividiram aprendizagem pela descoberta em:

  1. Processos transformativos (análise, formulação de hipótese, teste e avaliação)
  2. Processos regulativos (planificação, verificação, monitorização)

Veermans (2002, pp. 8–10)[47] descreve processos como:

  1. Orientação (construção das primeiras ideias acerca do assunto em causa. Envolve orientação para: leitura de informação relevante, exploração de um tema, identificação de variáveis e relato de conhecimentos prévios necessários à exploração do tema.
  2. Formulação de hipótese (nesta fase os aprendentes, começam a formular hipóteses acerca de problemas e questões do tema a estudar)
  3. Teste de hipótese (As hipóteses geradas durante o processo podem não estar corretas, e devem ser testadas pelo aluno. Nesta fase o aluno deve desenhar e executar experiências e interpretar resultados).
  4. Conclusão (nesta fase o aluno deve rever as hipóteses à luz das evidências geradas pelo teste de hipóteses).
  5. Regulação: Planificação, monitorização e avaliação:

O processo de regulação refere-se à gestão que o aluno faz do seu trabalho durante o processo de aprendizagem pela descoberta.

A planificação envolve a configuração de um objetivo e a definição do caminho para atingir esse objetivo.
A monitorização é o processo que mantém o aluno no caminho delineado.
A avaliação reflete os resultados.

Origem da aprendizagem pela descoberta

Em 1959 na conferência de Wodds Hole, em Massachusetts, vários cientistas e psicólogos juntaram-se para discutir como melhorar o ensino das ciências nas escolas.

A partir desta conferência, a que Bruner presidiu, foi redigido o documento O processo da educação.


Fonte: https://goo.gl/6HYNfl